REFLEXÕES SOBRE VERTOV E CLAIR
Alexandre
da Conceição[1]
Um dos mestres da vanguarda russa Dziga Vertov, em sua obra nos
apresenta a ausência de roteiro e a
inexistência de narrativa, o desejo de não haver simulações e a construção dialética entre o fato e a montagem
cinematográfica é explicita, em Um
Homem com uma Câmera, que é um retrato fragmentado de Moscou, o autor desmonta
literalmente os negativos de seu filme para depois reconstruí-lo perante o
espectador. Essa montagem inova em técnicas de recortes
e sobreposição de imagens, transformando assim a
obra de Vertov em uma bem sucedida tentativa de desconstrução da linguagem
e dos meios de produção.
"Eu sou o cinema-olho, eu sou o olho mecânico,
eu sou a máquina que mostra o mundo como só ela pode ver. Doravante serei
libertado da imobilidade humana. Eu estou em movimento perpétuo, aproximo-me
das coisas, afasto-me, deslizo por sobre elas, nelas penetro; eu me coloco no
focinho do cavalo de corrida, atravesso as multidões a toda velocidade,
coloco-me à frente dos soldados em assalto, decolo com os aeroplanos, viro-me
de costas, caio e me levanto ao mesmo tempo dos copos que caem e se levantam..." (Manifesto dos Kinoks [cinema-olho] de 1923)
Para construir uma
associação do olho humano com a câmera, ele faz uso de planos como, por
exemplo, de uma persiana, construindo dessa forma uma metáfora em relação a
retina e o diafragma da objetiva, o cinema-olho, capaz de
captar o real. E essa relação nos mostra que apesar de todo experimentalismo
utilizado em suas técnicas de montagem o autor ainda tem a necessidade de nos apresentar
uma realidade objetiva e naturalista – uma verdade visual - apesar de seus
recortes e fragmentações.
Quando nos deparamos com Entr'acte do
francês Rene
Clair, a primeira sensação que temos ao assistir
seu filme surrealista é a de uma viagem, uma viagem a relatividade do tempo,
com a expectativa da morte - não só no seu sentido fisiológico, mas também em
um âmbito social e temporal - quando nos apresenta o desvairado ballet da
burguesia por uma Paris onírica.
Para a realização deste
experimental – e extremamente divertido- curta metragem onde podemos reconhecer
no elenco figuras como Marcel Duchamp, May Ray entre outros – foram exploradas as
inúmeras possibilidades da linguagem visual das técnicas cinematográfica da
época, o que resultou em um sensacional caleidoscópio de imagens.
O que acontece nesta obra
não difere muito da obra de Vertov, pois apesar da proposta, do cenário onírico
e da grande carga metafórica o autor não consegue se desvencilhar do senso de
realidade objetiva.
REFERÊNCIAS:
DELEUZE.
Gilles, A Imagem-Movimento. Brasilia : Editora
Brasiliense, 1983
http://www.youtube.com/watch?v=1G39B3ECZGA
> >
acessado em 11/05/2011
http://www.youtube.com/watch?v=NXjlRCB8wbM
> >
acessado em 11/05/2011
http://www.youtube.com/watch?v=KytJFyMHZl0&playnext=1&list=PL7FEEE11F297A1B64>> acessado em
11/05/2011