segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

REALISMO E EXPERIMENTAÇÃO


REFLEXÕES SOBRE VERTOV E CLAIR
 
Alexandre da Conceição[1]



Um dos mestres da vanguarda russa Dziga Vertov, em sua obra nos apresenta a ausência de roteiro e a inexistência de narrativa, o desejo de não haver simulações e a construção dialética entre o fato e a montagem cinematográfica é explicita, em Um Homem com uma Câmera, que é um retrato fragmentado de Moscou, o autor desmonta literalmente os negativos de seu filme para depois reconstruí-lo perante o espectador. Essa montagem inova em técnicas de recortes e sobreposição de imagens, transformando assim a obra de Vertov em uma bem sucedida tentativa de desconstrução da linguagem e dos meios de produção.

"Eu sou o cinema-olho, eu sou o olho mecânico, eu sou a máquina que mostra o mundo como só ela pode ver. Doravante serei libertado da imobilidade humana. Eu estou em movimento perpétuo, aproximo-me das coisas, afasto-me, deslizo por sobre elas, nelas penetro; eu me coloco no focinho do cavalo de corrida, atravesso as multidões a toda velocidade, coloco-me à frente dos soldados em assalto, decolo com os aeroplanos, viro-me de costas, caio e me levanto ao mesmo tempo dos copos que caem e se levantam..." (Manifesto dos Kinoks [cinema-olho] de 1923)

Para construir uma associação do olho humano com a câmera, ele faz uso de planos como, por exemplo, de uma persiana, construindo dessa forma uma metáfora em relação a retina e  o  diafragma da objetiva, o cinema-olho, capaz de captar o real. E essa relação nos mostra que apesar de todo experimentalismo utilizado em suas técnicas de montagem o autor ainda tem a necessidade de nos apresentar uma realidade objetiva e naturalista – uma verdade visual - apesar de seus recortes e fragmentações.

Quando nos deparamos com Entr'acte do francês Rene Clair, a primeira sensação que temos ao assistir seu filme surrealista é a de uma viagem, uma viagem a relatividade do tempo, com a expectativa da morte - não só no seu sentido fisiológico, mas também em um âmbito social e temporal - quando nos apresenta o desvairado ballet da burguesia por uma Paris onírica.

 Para a realização deste experimental – e extremamente divertido- curta metragem onde podemos reconhecer no elenco figuras como Marcel Duchamp, May Ray entre outros – foram exploradas as inúmeras possibilidades da linguagem visual das técnicas cinematográfica da época, o que resultou em um sensacional caleidoscópio de imagens.

O que acontece nesta obra não difere muito da obra de Vertov, pois apesar da proposta, do cenário onírico e da grande carga metafórica o autor não consegue se desvencilhar do senso de realidade objetiva.


REFERÊNCIAS:

DELEUZE. Gilles, A Imagem-Movimento. Brasilia : Editora Brasiliense, 1983

http://www.youtube.com/watch?v=1G39B3ECZGA > > acessado em 11/05/2011

http://www.youtube.com/watch?v=NXjlRCB8wbM > > acessado em 11/05/2011





[1] Especialista em Artes Visuais: Cultura e Criação, graduado em Design Gráfico.