segunda-feira, 20 de junho de 2011

O ESPÍRITO DO TEMPO

A roupa faz parte de uma infinidade de objetos que constituem e constroem a cultura material humana, nos vestimos e nos adornamos desde tempos primevos, porém, nossa relação com o modo especifico de mudar sazonalmente de padrões é por assim dizer recente. Esse sistema que institucionaliza e acaba por reger a aparência, segundo Caldas (2009) “só teria surgido na civilização ocidental no final da Idade Média, por volta de 1300-1400”.

As grandes navegações, as trocas comerciais, um sistema filosófico com valores humanistas que trazia arraigada uma forte noção de indivíduo, o qual via o mundo como um produto de suas próprias ações e não como resultado de alguma divindade criadora, geraram as condições necessárias para o surgimento do fenômeno chamado Moda. O gosto pela mudança, pelo novo, o futuro e o desapego a tradições são os valores que permeiam esse fenômeno, que a partir do seculos XIV/XV avança a passos largos, inovando em cores, formas e materiais, criando a gênese do que Lipovetsky chama de “império do efêmero”.

"Nesse percurso multissecular, um primeiro momento se impôs durante cinco séculos, da metade do século XIV à metade do século XIX: é a fase inaugural da moda, onde o ritmo precipitado das frivolidades e o reino das fantasias instalaram-se de maneira sistemática e durável. A moda já revela seus traços sociais e estéticos mais característicos (...)" LIPOVETSKY, 1987

Em meados do século XIX, temos o advento da Haute Couture, idealizado por Charles Worth, o qual institucionalizou todo um sistema – as masons, a autoridade criadora dos costureiros, a sazonalidade e a consolidação de Paris como central emissora de tendências – e no inicio do século XX, a figura de Paul Poiret, iniciando a simbiose entre arte e moda, ele muda radicalmente a percepção do publico em relação a profissional criador, o qual, dizia ele, “...deveria ser um visionário, que observa seu tempo e orienta o gosto como fazem os outros artistas...”, ambos responsáveis pela criação do sentido contemporâneo do termo Moda.

A simbiose entre arte e moda só veio a se fortalecer nas décadas seguintes com a história dos “ismos”1 e das vanguardas artísticas e com ela a idéia dos criadores como “antenas aguçadas de seu tempo, capazes de captar desejos, mudanças em curso e visões de futuro.” (CALDAS,2009) e é a partir desta premissa que analisaremos as obras de Giacomo Balla, Madaleine Vionnet, Alceu Penna e Christian Lacroix.

Nascido na Itália, na cidade Turim em 1871, Giacomo Balla em 1910 declara publicamente sua filiação ao movimento futurista - do qual iria se afastar em 1931- o artista enfatizou em toda sua obra, os novos avanços científicos e técnicos da sua época por meio de uma nova maneira de representar o dinamismo em suas peças, utilizando-se do principio da simultaneidade, ou da desintegração das formas, numa repetição dinâmica quase infinita, que permitia de uma só vez o espectador, observar todas as sequências do movimento. Balla usou deste subterfúgio, em conjunto com a integração do espectro cromático com a luz e o movimento na criação em sua obra intitulada Figurino para Balé Futurista, de 1930.

Considerada uma das grandes estilistas de todos os tempos, Madeleine Vionnet nasceu na França em 1876, criava seus modelos em miniaturas para só depois quando alcançado o resultado desejado passar para a escala humana.

“Aparentemente, suas roupas tinham linhas simples, mas por trás de seus modelos existiam grandes estudos de corte e drapeados. Considerada a rainha do corte enviesado, Vionnet encomendava seus tecidos com quase dois metros a mais para poder esculpir seus drapeados. De certa forma, a estilista redescobriu o corpo feminino, livrando as mulheres do espartilho e dando conforto e movimento através da forma e do corte de suas roupas. (...) O estilo atemporal de Vionnet é influência até os dias de hoje, assim como sua contribuição técnica à alta-costura.” DUARTE. 2007

Um dos grandes nomes da moda nacional, desde os anos 50, Alceu Penna nasceu no dia 10 de janeiro de 1915 em Curvelo, Minas Gerais, ilustrava a revista semanal O Cruzeiro com a coluna “As Garotas do Alceu”, o que era sugerido como moda em sua coluna era automaticamente usado como exemplo e referencia pelas costureiras em todo o Brasil, os modelitos de suas garotas eram desenhados com as texturas e as cores das estações.


Suas Garotas eram utilizadas como referência da moda a ser copiada, e o próprio Alceu caprichava na produção dos desenhos que além de difundir os modelos em voga detalhava minuciosamente as texturas e tramas dos tecidos, evidenciando as cores de cada uma das estações. Era também muito importante a referência e sugestões para penteados, e também as frases e atitudes que suas garotas apresentavam eram prontamente adotadas criando modismos populares.” 2


Inovador e arrojado, o estilista francês nascido em 1951, Christian Lacroix ganhou fama internacional ao reinventar a alta-costura, tornando-se um dos criadores mais importantes no século XX. Estudante de História de Arte pretendia ser curador de um museu, mas acabou sendo admitido como criador na Mason Jean Patou. Seu trabalho na Patou fez com que o sucesso lhe alcança-se - um grupo financeiro interessou-se em fundar uma casa de costura e uma marca com o seu nome em 1987. Quando o minimalismo começavam a dominar a moda, no final dos anos 80, Lacroix com seus modelos em cores vivas, estampados vibrantes, bordados elaborados, misturas de tecidos e silhuetas volumosas deram um novo fôlego a sobriedade forçada da indústria da moda.

Ao estabelecer relações criativas entre moda e arte, podemos dizer que os criadores acima apresentados foram, segundo Caldas (2009), “sensíveis ao espírito do tempo” e agiram como “antenas aguçadas (...) capazes de captar desejos, mudanças em curso e visões de futuro.” e por isso figuram e irão figurar por muito tempo no panteão dos criadores mais influentes da história.



REFERÊNCIAS:
CALDAS. Dario, Moda e Figurino.
DUARTE, Sônia Duarte, http://www.modelagemmib.com/2007/08/madeleine-vionnet-1876-1975.html
LIPOVETSKY, Gilles. O IMPÉRIO DO EFÊMERO : A Moda e seu Destino nas Sociedades Modernas . São Paulo : Companhia das Letras, 2009

1 Cubismo, futurismo, surrealismo, dadaísmo... e outras correntes artísticas e surgiram no inicio do séc. XX.


2 http://www2.uol.com.br/modabrasil/


quarta-feira, 15 de junho de 2011

OLHO GRANDE???



...Desde a antiguidade, os olhos são vistos como sendo a expressão da alma e 
considerado um órgão sagrado.
O olho humano tem um potencial oculto e emite energias 

que podem intensificar as palavras ditas. 
Um olhar penetrante e bem dirigido, pode reforçar muito
 uma mensagem ou um ensinamento. 
E, muitas vezes, sozinhos já conseguem passar 
toda a informação necessária...







LUCHA LIBRE


...no início do século XX, o wrestling profissional foi um fenômeno que não parava de ganhar audiência na área do México. Então, o promotor Salvador Lutteroth fundou a empresa Consejo Mundial de Lucha Libre, até hoje ativa, que na época era chamada de Empresa Mexicana de Lucha Libre. Isto ocorreu em 1933.
Dentro de décadas, a lucha libre começou a se tornar parte da "cultura" mexicana; virou um fenômeno de vez. Em 1942, um dos maiores wrestlers de todos os tempos surge no México: El Santo. No anos seguintes, aparecem outras estrelas, como Gory Guerrero e Blue Demon, maior rival de El Santo.
Os lutadores ganham agilidade e performam movimentos aéreos incríveis para estadunidenses, além de movimentos de força. Entre as diferentes categorias do wrestling, a preferida é a de pesos-leves (Cruiserweight). Os mais ágeis mexicanos talvez sejam Rey Mysterio, Jr.Místico e Juventud Guerrera. Muitos wrestlers do México vão para os EUA. O costume de haver lutas em tag team não é de dois lutadores em cada equipe, mas sim de três...




SANTA MUERTE



...especial dedicación a mi Santa Muerte
por protegerme y proteger a toda mi gente
por ser justa entre las justas
por dejarme seguir vivo
por darme la fuerza para castigar al enemigo
por la bendición a mi fierro pulso certero...




quinta-feira, 2 de junho de 2011

TEMPORALIDADES




As relações temporais que permeiam uma obra de arte são inúmeras – desde o tempo de produção, o tempo de fruição do espectador e a sua relação temporal com a sociedade.

O tempo pode ser instantâneo, tanto na sua produção quanto na sua fruição, como na obra de Gustave Le Gray. Alguns minutos para preparar o filme, um flash e o assombro de quem a olhava pela primeira vez. Tecnologia usada a favor da arte, os fotogramas de Le Gray foram os primeiros que se valeram do menor tempo de exposição, o que possibilitou uma maior nitidez as imagens, e com essa nitidez a captura instantânea do tempo – movimento.

Inquieto, assim é o tempo nas obras de Claude Monet e Gaetano Pescee. O primeiro com a sua A estação de Saint-Lazare” que nos transmite a inquietação do artista com suas pinceladas rápidas e largas, a rapidez em congelar o tempo que passava com suas luzes e sombras. O segundo e a sua UP Collection – poltronas fabricadas em material expansível apresentadas vazias, amorfas - nos trazem a inquietação do tempo/deslocamento, da produção massificada à espera fruitiva da forma porvir – por parte do consumidor/espectador.

Temos a Terra, o solo e as rochas, como símbolos da durabilidade material e como matéria prima na obra Robert Smithson, o artista que nos apresenta o tempo duradouro - não só na execução, mas também na maneira de apresentar a obra – a visão do píer em espiral nos faz refletir sobre a arte utilizando a terra como suporte, alterando seu panorama para sempre, e do tempo/deslocamento de sua fruição.

O que realmente encontramos na obra de Mira Schendel, com seus Trenzinhos - delicadas estruturas de papel de arroz arranjadas como varal? Simplesmente nos o não-ser, a quase anulação do tempo, do espaço, do material.

"Há uma concordância em entender o trabalho de Mira Schendel como um não-ser, uma entidade que não se fixa o suficiente para ser identificada, que não se estabiliza o bastante para ser isolada e nem se define nitidamente para ser conceitualizada. Até mesmo a materialidade essencial às coisas é subtraída. Próximo de um sopro, flatus. Quase nada, apenas o mínimo suficiente para ser, para não pesar, para não aparecer, para não perturbar. O mínimo para ser, quase não-sendo. Para ser apenas uma presença essencial. Um pouco mais que uma indefinição. Quanto mais potencializa sua presentificação, mais afirma sua ausência. Todos os modos enfáticos que apelam aos sentidos são por ele negados." VENANCIO FILHO, 1997


E qual é o tempo de produção e fruição de um sonho? Podemos nos fazer essa pergunta quando nos deparamos com Entr'acte de Rene Clair, com seu filme surrealista, Clair nos leva a uma viagem a relatividade do tempo, com a expectativa da morte - não só no seu sentido fisiológico, mas também em um âmbito social e temporal - quando nos apresenta o desvairado ballet da burguesia por uma Paris onirica

Instantâneo, inquieto, duradouro e acima de tudo relativo, assim é o tempo e assim ele se apresenta e nos é apresentado nas obras acima analisadas.



REFERÊNCIAS:

GASTALDONI. Dante, O Tempo e os Tempos na Fotografia.

VENANCIO FILHO, Paulo. A transparência misteriosa da explicação. In: SCHENDEL, Mira. Mira Schendel a forma volátil. Apresentação Helena Severo, Vanda Mangia Klabin; texto Sônia Salzstein, Paulo Venancio Filho, Célia Euvaldo. Rio de Janeiro: Centro de Arte Hélio Oiticica, 1997.




excesso/fragmento/dualidade






 

Fragmento


s.m. Pedaço de um objeto que foi partido, desfeito.
O que resta de uma obra antiga.
Parte extraída de um livro, de um discurso.